Não estamos lidando com qualquer um, os idosos de hoje viveram guerra, alguns migraram dos seus países de origem deixando para trás suas famílias, trocaram o conhecido pelo incerto. São pessoas que na infância não tiveram internet, comida congelada, água encanada na torneira, microondas, mulheres deram à luz sem internação, por isso não podemos julgar suas rugas com desprezo, sem saber o que viveram durante toda a vida.
Então hoje, os sobreviventes da onda tecnológica, devem sentir-se vencedores. Nunca na história da humanidade as mudanças foram tão rápidas. Podemos elencar êxodo rural como a primeira consequencia da revolução industrial. A mudança para a cidade, crescimento destas zonas urbanas e afastamento da vida comunitária em cidades feitas para carros e não pedestres, com calçadas estreitas em desnível, transporte público alto e descarte rápido de tudo que é velho.
As famílias sofreram mudanças drásticas com o advento da pílula anticoncepcional e consequente emporedamento feminino. Mulheres foram para o mercado de trabalho, passaram a contribuir financeiramente na família, algumas vezes viraram arrimo da família. Por vezes terceirizaram seu papel de mãe e dona de casa, outras vezes, acumularam as tarefas sem ajuda, simplesmente.
A feminização da velhice é um tema bastante estudado, pois é gritante a diferença % entre os sexos nesta fase. São muitos fatores que tornam este resultado possível: homens morrem jovens em violência ou acidente. Mulheres cuidam-se mais ao longo da vida, desde o pré -natal dos seus filhos, na busca por cura e prevenção para toda a família, quem não trabalhou fora, foi poupada e protegida de acidente, estresse e até front de batalha em guerras.
É importante, contudo, observar que apesar de na época do nascimento destas pessoas, a expectativa de vida fosse menor que a atual, mantiveram boa saúde como alimentos não processados, atividades ao ar livre, exercícios constantes dentro de casa e laboral, e com isso contribuíram para números diferentes dos atuais.
Além destes fatores, descoberta da penicilina e vacinação em massa, contribuíram para que as pessoas deixassem de morrer por doenças infecciosas. Aliás, a prevalência de doenças crônicas é uma realidade nos consultórios geriátricos. E ainda acumulam para o que chamamos comorbidades. Hoje pessoas vivem muito mais sim. Por todas as razões listadas acima, podemos observar diferentes grupos que estão na fase da velhice, uma fase que pode durar mais de 40 anos! Precisamos encontrar não só maneiras de viver mais, mas viver melhor, com qualidade de vida, por isso cresce o número de profissionais e de estudos ligados a idosos.
Aquelas pessoas que obedeceram regras durante toda vida, já cuidaram de filhos, cônjuges, netos, bisnetos, sem nunca ter tempo para si, já abdicaram de prazer em nome do trabalho, da responsabilidade podem ser: um familiar próximo, um vizinho, um conhecido, até mesmo você que me lê agora. Sim, eles estão por todos os lados, sim, estamos envelhecendo a cada dia que passa, e cada vez mais próximos desta realidade. Então, por que problematizar a vida das mesmas pessoas que tanto contribuíram com o mundo como encontramos hoje?
Nenhum momento foi tão aterrorizante como o início da pandemia no Brasil para os idosos. O terror que a mídia tradicional colocava para este público era o mais nefasto. Perseguiram os idosos como nunca visto. Praticaram a mais baixa seletividade contra um grupo que não tem voz, que é ridicularizado pelo seu andar, seus declínios físicos, suas incapacidades e dependências. Famílias inteiras tiraram autonomia destas pessoas, proibiram-nas de sair, mantiveram dependentes e trancadas por meses, alguns por anos. E os resultados são vistos em diversos estudos, com alta incidência de problemas psicológicos, psiquiátricos e até suicídios.
Que tenha servido de lição. Lição para nunca mais repetir. Segregação nunca ajudou ninguém. Nem em 1945, nem em 2020. Podemos e devemos aprender com isso.
Então, se você tem preconceitos, repense, avalie, coloque-se no lugar do outro e reveja seus valores. Procure ouvir o outro lado, coloque a mão na consciência, esforce-se para mudar suas atitudes. Só assim mudaremos o mundo, a partir de nós mesmos. Tenha uma longa vida!