Qualquer pessoa que não se alimenta com o mínimo de nutrientes diários, tem alterações no crescimento, desenvolvimento mental e pode ter como consequência doenças reversíveis e outras irreversíveis. Para os idosos que vivem sozinhos é difícil encontrar meios que favoreçam o prazer de se alimentar, seja por falta de companhia ou por elaborar pequenas porções de comida para si. Por mais que a pessoa goste de cozinhar, as refeições são produto de um universo social, mais do que o consumo de nutrientes em si.
Para uma dona de casa que passou anos, décadas ou a vida inteira preparando refeições para uma família grande, encontrar-se viúva ou sem os filhos por perto pode associar a um vazio tamanho, que o prazer de preparar as refeições é substituído por algo que dê maior satisfação. E assim, suas refeições deixam de ter certo brilho, dando vez ao consumo de produtos industrializados.
ALIMENTAÇÃO NATURAL x PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS
A grande ingestão de produtos muito industrializados associada aos declínios do sistema imune e digestório no ciclo vital aumentam o risco para muitas doenças e algumas crônicas, ambos agravantes para os idosos que vivem nas grandes cidades.
Há idosos que tem uma imagem positiva das grandes empresas, pois acreditam na boa fé. Ao lerem os rótulos das embalagens não entendem as entrelinhas de tantos produtos nocivos à própria saúde. Entendem que ingerir produtos sem glúten ou sem lactose, ou até rico em fibras é a única verdade como visto em programas de tv, os quais são patrocinados por tais empresas e sobre os seus produtos fazem as receitas.
É uma grande jogada de todo o mercado econômico para com os seus consumidores, unidos na exposição, informação nutricional, forma de preparo e por fim venda. Não é a toa que o profissional de propaganda é tão bem remunerado quando convence o consumidor de investir em um produto que sequer tinha necessidade. Tomamos como exemplo uma pessoa que nasceu há 80 anos no interior e consumia produtos naturais vindo do próprio quintal, hoje idoso, consome produtos diretamente das prateleiras dos mercados, escolhidos pela forma, cor, aroma, embalagem.
Nas embalagens até há uma tabela de valor nutricional, com letras miúdas e literatura técnica, dificilmente compreendida por leigos. Contém informação quanto a quantidade de nutrientes em porção, o que não condiz com o pacote inteiro, ou seja, um jeito de maquiar elementos que não deveriam estar expostos para consumo devido ao mal que faz a saúde ser maior q seu benefício. Mas normas seguem os ditames das agências reguladoras e órgãos fiscalizadores como Ministérios da Saúde e da Agricultura, Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No Brasil, diferentemente de outros lugares do mundo há feiras livres, onde são encontrados produtos variados, seja por sua qualidade ou preço. Entretanto os idosos que frequentam estes espaços já tem o hábito de comprar em determinada banca e por vezes recebem em suas casas as encomendas. E por mais que haja rodízio entre os bairros e em diferentes dias da semana, nem sempre é possível para o idoso sair de casa ou fazer o trajeto até o local, submetendo-se a compra destes produtos naturais nos sacolões e/ou mercados, onde há outras distrações como os produtos industrializados.
IDOSO ESTÁ COMENDO MENOS? SAIBA O QUE PODE ESTAR ACONTECENDO
Quando idoso, o corpo sofre com acúmulo de declínios físicos de toda uma vida. A presbifagia é uma degeneração fisiológica do mecanismo de deglutição e envelhecimento das fibras nervosas como percepção gustativa devido a atrofia das papilas linguais, além da diminuição e alteração de saliva que prejudicam a formação do bolo alimentar.
Este bolo alimentar pode escapar precocemente para esôfago, ou seja não está totalmente triturado para ser absorvido, forçando o esôfago, estômago, pâncreas, vesícula, fígado e intestinos a trabalharem mais. Considerando que cada órgão sofre sua senescência com perda do tônus muscular, disfunção (da epiglote e do fechamento laríngeo) e até de tamanho como a laringe e diminuição da motilidade dos músculos da faringe, é necessário considerar a via de entrada dos alimentos.
Perder dentição e sem substituição ou com prótese má acomodada são fatores que desencadeiam não ter prazer em comer e com isso, a ingestão de nutrientes necessários para sobreviver.
A realidade da pouca dentição é um fato que acomete a baixa renda, simplesmente por ser uma solução cara para os padrões brasileiros. Apesar de existir políticas públicas como em algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde (SUS) para o cuidado dentário, não há para cultura de manutenção e prevenção dentária. As soluções são comumente simplórias como extração. E quando isso ocorre, em geral o paciente não dispõe de recursos financeiros próprios suficientes para repor com prótese, quem dirá com implante, incentivando assim, o edentulismo.
A perda dentária ocasiona uma série de fatores: deficiência na mastigação desde a trituração, disfagia moderada principalmente na ingestão de sólidos, perda de suporte labial resultando em alteração facial, atrofia óssea alveolar, dificultando qualquer tipo de implante posterior e dificuldade na pronúncia de certos fonemas.
Quando os idosos usam prótese, em geral é completa, ou seja a dentição que era parte do seu corpo, seu sorriso como identificação já não é mais seu. Para quem perde, pode ser encarada como uma mutilação, gerando insatisfação e perda de identidade, além da difícil adaptação.
Junta-se a isso a falta de orientação quanto a higiene da prótese e manutenção da mesma. Por vezes encontra-se mal acomodada e causa machucados e quando solta, há acumulo de restos de alimentos. Esta condição predispõe uma serie de transtornos como lesões nas gengivas e nas bochechas que podem virar tumor, aftas, e ainda pior que a dor sentida, é o afastamento do indivíduo da convivência social por vergonha do barulho, do trejeito. Alguns preferem se adaptar imagem social de banguela e acomodar os alimentos na gengiva plana, agora mais resistente às mordidas, deixar de ingerir certos alimentos devido a consistência ou mudar a forma de servir a comida, como exemplo, pastosa.
Quando o alimento não percorre devidamente todas as fases da ingestão como trituração, mastigação, deglutição, o sistema digestório é forçado a trabalhar mais, gerando maior fadiga e comprometendo toda uma cadeia. E na velhice, o uso de medicamentos pode agravar diminuindo a sensibilidade quanto ao paladar e influenciando nas condições neuromuscular.
Todos estes fatores podem ser auxiliados e treinados por especialista em odontologia e fonoaudiologia, os quais reabilitam e previnem muitos fatores que podem se tornar patológicos.
A avaliação quanto a perda de peso e medidas pode ser revisto junto a nutricionista, que pode elaborar dieta que compõe alimentos equilibrados, na forma e diante das condições sócio econômicas do paciente.
Esta visão é generalista a partir de um olhar gerontológico, profissional, este que poderá após estas intervenções, acompanhar o processo de manutenção e melhora das condições físicas e psíquicas do paciente e buscando na rede, suporte emocional e recursos para aquisição da prótese dentária.
Referências bibliográficas:
ALMEIDA, M.D et al. Cultura alimentar em idosos de Mutuípe, Bahia. Salvador: EDUFBA, 2008
CARDOS, M.C.A.F.; BUJES, R.V. A saúde bucal e as funções da mastigação e deglutição nos idosos. Estudos Interdisciplinares do Envelhecimentos, Porto Alegre, v.15, n. 1, p. 53-67, 2010.
SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana, uma abordagem integrada. 5ª edição. Editora Artmed, 2010