O significado de aposentadoria é um só, mas esta fase não é igual para todas as pessoas devido a muitas variáveis.
Aposentadoria é o fim de um ciclo obedecendo regras, horários, buscando metas, vencendo distâncias, tolerando diferenças, recebendo salário, bônus e benefícios, e também é o fim do reconhecimento profissional, da ascensão na carreira, das premiações, da valorização do seu trabalho por competência.
É chegada a vez de entrar na fila da espera de provar e comprovar ao Estado suas contribuições para ser considerado apto a receber o benefício, ou melhor, o seu dinheiro de volta. A partir desta data, sua ocupação passa a ser: aposentado, independente do que fez ao longo da vida.
Somente depois de todos estes anos laborais, você é livre para descansar pois seu tempo já não é mais tão produtivo assim… a mudança é drástica: de uma carreira longa e várias conquistas, o aposentado passa a ser um número, um peso para o Estado, e talvez para a família. Encarar este desconforto só é possível com planejamento de vida e propósitos definidos. É importante que a pessoa preencha o seu tempo e aproveite para aprender coisas novas, conhecer novos lugares, vivenciar novas culturas, estreitar rede de suporte social, ir atrás de realizações, e poder escolher ser feliz.
Este tempo tão desejado e sonhado nem sempre é planejado. O planejamento faz parte das nossas vidas na escolha da nossa profissão, na cerimônia do casamento, na decisão das férias (onde, como quanto, por quê), enfim, para quase tudo na vida pesquisamos, fazemos escolhas, encontramos saídas para obstáculos, e trabalhamos arduamente para que tudo saia como sonhado. Por que para a fase da aposentadoria isso não é pensado?
Há uma expectativa grande para fazer nada. Fazer nada para ficar com as pernas pro ar o dia todo e não se importar com boletos a pagar, pois já fez um pé de meia que comporta uma vida confortável; nem com a criação dos filhos, pois estes já estão independentes o suficiente para sair de casa; nem com a saúde, pois sempre manteve alimentação saudável, exercícios físicos regulares, noites de sono tranquilas, consultas e exames regulares para tratar precocemente qualquer doença; manter-se em atividades de lazer; ter uma rede de suporte social de família, amigos, vizinhos, de assuntos diversos (religião, política, antigos do trabalho etc).
É uma lista que pode ser construída em uma vida, por décadas, de pouco em pouco com perseverança e propósito. E ela pode ser dividida, com cônjuge, com os filhos e pessoas com quem pretende passar o tempo livre. E pode ser totalmente viável, desde que planejada e seguida ajustada à realidade, com objetivo determinado.
Acontece que muitas pessoas somente sentem-se prestativas enquanto estão ocupadas. Sem trabalho, o vazio tende a acumular pensamentos negativos. Segundo artigo [1], a população aposentada do Reino Unido apresenta piores condições de saúde física e mental, aumento de diagnóstico de depressão e de consumo de medicação. Tais diferenças podem ser mais sentidas se comparado o tempo que está aposentado.
Talvez esta razão esclareça a motivação de muitos a continuar vida laboral além da aposentadoria. Seja para ocupar tempo, pelo reconhecimento de seu trabalho, para sentir-se produtivo, suprir a diminuição de renda e até para ajudar na renda dos seus descendentes. Tal afirmação é da Proteção ao Crédito (SPC Brasil) “revela que 43% dos brasileiros acima de 60 anos são os principais responsáveis pelo pagamento de contas e despesas da casa – o percentual é ainda maior (53%) entre os homens. De modo geral, 91% dos idosos no Brasil contribuem com o orçamento da residência”[2].
Aposentar-se não é fácil, muitas vezes, nem é permitido. Vamos esclarecer como é aposentar-se no Brasil: mínimo 35 anos de comprovação de trabalho para homens e 30 para mulheres, sendo mínimo de 15 anos de recolhimento. Entretanto, uma vez aposentado, os valores não acompanham sequer a inflação, ou seja, a cada ano que passa, o poder de compra é menor. A não ser, claro, que ocupe cargos públicos na área jurídica, cujos valores podem alcançar R$120 mil [3] ou como senador da República [4], que até a reforma da previdência podia se aposentar aos 50 anos com 8 de mandato, é mole? [5,6]
Por outro lado, há quem nunca tenha contribuído para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e tem direito a receber aposentadoria, tal qual aquele que contribuiu a vida inteira, como pescadores ou trabalhadores rurais. Outra exceção á regra, são aquelas ocupações que tem um tempo diferenciado para aposentadoria, como professores e profissionais de radiografia por insalubridade [7].
Por fim, há quem não se enquadre em nenhum destes e após os 65 anos, a depender da renda familiar, passa a receber Benefício de Prestação Continuada (BPC) da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), uma assistência equivalente ao salário mínimo, como forma de manter condições dignas de sobrevivência [8].
Referências:
1 -https://iea.org.uk/wp-content/uploads/2016/07/Work%20Longer,%20Live_Healthier.pdf
2 – https://www.spcbrasil.org.br/ https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-12/pesquisarevela-que-43-dos-idosos-respondem-pelo-sustento-da-casa
3 – https://www.gazetadopovo.com.br/republica/juizes-punidos-aposentadoria-compulsoriasalarios-milionarios/
4 – https://www2.camara.leg.br/comunicacao/assessoria-de-imprensa/guiapara-jornalistas/aposentadoria-de-deputados
5 -ORLEÁNS e BRAGANÇA, L.P. Por que o Brasil é um país atrasado. Maquinaria editorial, 2019. 2a ed. p.55 a 60, 140 a 164, 221 a 260.
6 – GARSCHAGEN, B. Direitos máximos, deveres mínimos. Rio de Janeiro: Record, 2019.
7 – http://conter.gov.br/site/noticia/economia-29-10-2019
8 – https://www.gov.br/inss/pt-br/saiba-mais/beneficiosassistenciais/beneficio-assistencial-ao-idoso-bpc