A relação entre idosos e religião é um tema complexo e multifacetado. Muitos idosos vêem na religião uma fonte de conforto, esperança e sentido de propósito em suas vidas. A religião pode oferecer uma comunidade de apoio, com rituais e práticas que ajudam a enfrentar as dificuldades da vida, por outro lado, são espaços que permitem praticar voluntariado.
SELEÇÃO, OTIMIZAÇÃO E COMPENSAÇÃO
A prática do voluntariado é comum na velhice como forma de compensar as perdas que ocorrem com o envelhecimento. Isso pode incluir a adaptação de atividades para que possam ser realizadas de forma mais fácil ou outras estratégias para superar o afastamento de atividades laborais, isolamento social, perda financeira em decorrência da aposentadoria.
No contexto do voluntariado, a teoria da seleção, otimização e compensação pode ajudar a entender como os idosos selecionam as atividades que são mais significativas para eles e como eles otimizam seu desempenho nesses papéis, apesar das limitações que podem surgir com o envelhecimento. Além disso, a teoria sugere que os idosos podem compensar quaisquer perdas ou limitações físicas ou cognitivas, encontrando maneiras alternativas de contribuir e se engajar no voluntariado.
“Na velhice, o modelo de seleção, otimização e compensação de Baltes e Baltes (1990) pode ser utilizado para explicar o paradoxo do bem-estar subjetivo e da continuidade da funcionalidade” [3]
Esta é uma das teorias que explicam o engajamento de pessoas mais idosas em atividades religiosas.
RELIGIÃO: SUPORTE PARA MUITOS IDOSOS
Por outro lado, existem várias outras razões pelas quais os idosos podem ser mais religiosos:
– Experiência de vida: Ao longo de suas vidas, os idosos enfrentaram muitas experiências e desafios, incluindo doenças, perdas, mudanças e traumas. Essas experiências podem ter levado muitos idosos a buscar conforto e consolo na religião e na espiritualidade.
– Finitude: À medida que envelhecem, muitos idosos se tornam mais conscientes da proximidade da morte e podem se voltar para a religião e a espiritualidade para encontrar conforto e esperança.
– Mudanças sociais e culturais: Muitos idosos cresceram em uma época em que a religião e a igreja desempenhavam um papel central na vida das pessoas. Eles podem ter sido criados em lares religiosos ou frequentado igrejas com suas famílias. Com o tempo, essas tradições podem ter se tornando parte de sua identidade e crenças pessoais.
– Solidão e isolamento: À medida que envelhecem, muitos idosos podem enfrentar a solidão e o isolamento social, especialmente se perderam amigos e familiares. A religião e a igreja podem oferecer uma comunidade de apoio e conexão social, o que pode ser particularmente valioso para os idosos.
– Senso de significado e propósito de vida, que afeta os comportamentos de saúde e as relações sociais e familiares
– Maior capacidade de lidar com a doença e a invalidez.
Alguns estudos têm encontrado uma correlação entre a prática religiosa e uma melhor saúde, incluindo uma menor incidência de depressão, ansiedade e doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes e doenças cardíacas. Outros estudos sugerem que a religião e a espiritualidade podem ajudar as pessoas a lidar com o estresse, a solidão e a doença, proporcionando conforto, esperança e um senso de propósito e significado na vida.
Segundo Um estudo realizado com idosos internados em hospital, o autor concluiu que: “Em relação a importância que o indivíduo atribui a religião e espiritualidade em sua vida (religiosidade intrínseca), a grande maioria dos pacientes referiram sentir a presença de Deus em suas vidas, bem como as crenças religiosas estão por trás da forma como vivem. Apesar disso, quando questionados em relação à freqüência com que participam de atividades sociais religiosas, como idas a cultos, templos ou encontros religiosos, apenas 20% dos pacientes freqüentam uma ou mais vezes por semana… Em contrapartida, com a redução das atividades religiosas sociais, aumenta a prática de atividades religiosas individuais. Pelo menos 90% da amostra realiza atividades religiosas individuais ao menos uma vez ao dia. Este dado sugere que a importância que a religião ocupa na vida destas pessoas, não pode ser mensurada pelo quanto se freqüenta uma igreja e sim, pelo significado atribuído aos mesmos e as práticas religiosas individuais. Além disso, com o avançar da idade, o idoso se depara com limitações físicas, como dificuldade de locomoção, decorrentes de doenças crônicas, de seqüelas de acidente vascular encefálico, da própria idade entre outros fatores. Soma-se a isto, o medo de quedas, medo de sair sem companhia e passar por qualquer tipo de apuro ou violência. [2]
Outro estudo realizado em Salvador – BA concluiu: “mostra que os idosos têm mais do que sentimento ao interpretar a religião, e seu comportamento depende dos ensinamentos religiosos. Assim, a religiosidade pode ser pensada como fonte de sentido para o ser humano, pois busca responder a inquietações existenciais relacionadas à finitude.
A velhice, como etapa final de um ciclo vital, permite ao idoso conectar-se com seu próprio ser… liberado na facticidade e temporalidade dos preceitos e/ou modos religiosos de idosos que têm religião em sua vida.
A religião e sua influência na vida do idoso vão além da prática em si. Está relacionada à qualidade de vida, pois transmite uma ideia positiva não só para o indivíduo, mas também para as outras pessoas ao seu redor. A religiosidade é um elemento fundamental de força, esperança e disposição na vida das pessoas nessa fase da vida e muitas vezes essas pessoas a utilizam como refúgio para as adversidades da vida.
Portanto, o envolvimento religioso contribui para diminuir a vulnerabilidade de eventos estressantes, dando sentido à vida e tendo papel relevante no futuro dessas pessoas na promoção da esperança. Além disso, proporciona motivação para mudanças no sujeito, trazendo significado e propósito à vida das pessoas – fator que contribui para a saúde e qualidade de vida.
Com o avanço da idade, a inquietação, desencadeada pela ideia de morrer, estimula o envolvimento religioso, que decorre dos desafios impostos pelo processo de envelhecer, demonstrado por sentimentos de gratidão pela vida.” [3]
Ambos indicam a necessidade de expandir estudos sobre este assunto.
Apesar de todas as evidências, há manuais que contradizem “A religião nem sempre é benéfica para os idosos. A devoção religiosa pode promover culpa excessiva, inflexibilidade e ansiedade… Alguns grupos religiosos desencorajam os cuidados de saúde mental e física, incluindo terapias que potencialmente salvam vidas (p. ex., transfusões de sangue, tratamento de infecções, terapia com insulina) e podem substituí-las por rituais religiosos (p. ex., rezar, cantar, acender velas).” [4]
Mas, afinal, se a liberdade sobre a crença é a mesma sobre a própria saúde, por que interferir na opção de cada um? Nenhum profissional, de qualquer área que seja, tem a responsabilidade de intervir em decisões que só cabem ao enfermo e sua família.
Espaço ecumênico em residencial geriátrico
QUAL RELIGIÃO É A MAIS PREVALENTE
A presença do cristianismo no Brasil tem origem na colonização portuguesa, que trouxe consigo padres e missionários católicos que pregavam a religião entre os povos indígenas e africanos que habitavam o território.
Desde então, a Igreja Católica exerceu uma grande influência na sociedade brasileira, especialmente durante os séculos XVIII e XIX, quando a religião era uma instituição central da vida cotidiana das pessoas. No entanto, ao longo do século XX, houve um crescimento significativo do protestantismo e outras denominações cristãs no país, impulsionado por fatores como a imigração europeia, a migração interna e a urbanização.
Hoje, o Brasil é um país majoritariamente cristão, com a Igreja Católica ainda sendo a maior denominação religiosa, seguida por várias denominações protestantes e evangélicas. É um país multicultural e pluralista, com muitas religiões coexistindo lado a lado, que refletem sua rica história e cultura. Há uma significativa presença de religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda e também outras religiões como o Judaísmo, o Budismo, o Hinduísmo e o Espiritismo.
Referências
1- https://www.larpsi.com.br/media/mconnect_uploadfiles/c/a/cap_016.pdf
2- https://www.scielo.br/j/ptp/a/fQbxvWPkFPdmCyYHrMDXB3G/?lang=pt
3- https://www.scielo.br/j/reben/a/q3MwtHsDHjmbrtFDtwQM68x/?lang=en
4- https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/geriatria/quest%C3%B5es-sociais-em-idosos/religi%C3%A3o-e-espiritualidade-em-idosos#:~:text=A%20religi%C3%A3o%20nem%20sempre%20%C3%A9,transtorno%20bipolar%2C%20esquizofrenia%20ou%20psicoses.
5- https://www.freepik.com/